quinta-feira, 26 de maio de 2016

Garota desbocada????????

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

 
Ás vezes sinto saudade da garota desbocada. Da garota desbocada no seu estado mais brutal e mais líquido ao mesmo tempo. 
 
Às vezes sinto saudade daquela mulher regida por Mercúrio, camaleoa, se desfazendo em mil cores , transbordando caoticamente como uma boa geminiana que nem sabe se quer alguma coisa.
 
Às vezes sinto saudade daquela mulher que sai na chuva sem medo de ficar doente pois apesar do sorriso sexy , está no fundo do poço. Está pouco se lixando se a água corre para cima ou para baixo, pois independente do fluxo das marés, ela sabe que seu destino é se afogar num mar de má sorte.
 
Às vezes sinto saudade da garota desbocada que debocha de tudo aquilo que ela mais quer tocar e não pode. Da garota desbocada que precisa derrubar tudo aquilo que a faria feliz, mas que lhe arrancaram brutalmente das mãos , sem dó nem piedade. Sem olhar para trás. Sem um olhar de compaixão.
 
O sofrimento tem lá os seus encantos e vicia. O sofrimento deixa lá suas marcas na alma , uma espécie de programação sinistra. Me movo desajeitadamente sob o som desta música alegre. Deste gosto prosaico de cerveja e aconchego. Deste gosto aconchegante das coisas prosaicas e essenciais da vida.
 
A chuva me assusta. Meus excessos me deixam com dor na consciência. Quando estamos felizes , nos sentimos em débito com a vida.
 
Lembro de mim, andando na chuva, os pingos grossos batendo em meu rosto, os ombros nus , projetados para um futuro inexistente.  Sim, existe um charme em não ter nada a perder...um senso de liberdade e irreverência que me rasgam por dentro enquanto me toca e me esbofeteia com mil mãos insanas.
 
Sorrio para mim mesma. Para tudo que desprezei. Para tudo que desdenhei. Sorrio para esta mulher que me olha pela fresta da alma, invejando o meu atual sorriso plácido. Ela tenta me arrastar para o seu caos solitário. Ela me olha fixo tentando me hipnotizar e não tiro os olhos de seu batom vermelho.
 
Sorrio mais uma vez antes de fechar a porta em sua cara.
 
 
 
 

Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.

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