Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
Ás vezes, a vida oferece maus dados. Ás vezes, descobrimos que não existem maus ou bons números. A sorte é uma ilusão. Existem números. Símbolos. Convenções. Cuspe sobre aquilo que não podemos conter , que não podemos controlar.
De repente , um sinal aleatório. As superstições voltam a sorrir. Secamos o cuspe maledicente dos dados e oferecemos ao destino o melhor dos nossos sorrisos. O nosso sorriso domingueiro, bem ajeitado como roupa de ir ao culto.
Penteamos os cabelos da alma , tornamos os fios bem comportados , nos agarramos a uma crença dócil a respeito de nós mesmos.
Sentamos de pernas cruzadas. "O que tiver que ser , será" , falamos placidamente com nossos lábios sonsos. Mas por dentro queimamos com a certeza de que existem dados bons sim e que eles são nossos.
E se o destino resolver fazer mais uma piada sórdida , cuspiremos novamente , olhos injetados , olhar blasfêmico e profano.
Não, não existe beleza na infelicidade. No desencontro. Nas noites em que a alma trepida de frio e solidão.
Não existe mérito na desgraça. O infortúnio como dádiva é mais uma mentira que nos contaram ao pé do ouvido. É uma mentira tecida pelas mãos embriagadas dos poetas , os jogadores de palavras, que suportam seus maus dados com rimas e idílios.
A desgraça é viscosa como o cuspe atirado nos dados e diante dela nada nos resta a fazer além de sermos desgraçados ou conformados, uma modalidade bem penteada e asseada de desgraça. Prefiro a de cabelos desgranhados.
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.
RS Imagino que sim!
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