quinta-feira, 2 de junho de 2016

Esta minha alma tua

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
 
 
 
Ás vezes tenho um sentimento furioso e deletério a me morder por dentro, corroendo a minha alma, comendo-a pelas beiradas como um ratinho travesso e sujo. Como um ratinho que aos poucos vai chegando ao cerne de tudo.
 
Mas o que há no centro da minha alma? No coração da minha alma? Algo a preservar ou algo a ser comido e corroído como tecidos velhos pelas traças de um armário escuro?
 
Algo que merece ser defendido com unhas e dentes, ferozmente, apaixonadamente ou apenas papeis sem utilidade atirados no fundo de um cesto de lixo imundo?
 
Algo que renderia uma poesia ou uma melodia tirada na hora , com gosto de inspiração e improviso...ou simplesmente uma modinha barata que vai virar notícia ultrapassada no dia seguinte?
 
Sim, às vezes tenho um sentimento furioso e deletério a banhar a minha alma como uma cachoeira de veneno. Meu sorriso se apaga. Ou se acentua mordazmente. Pergunta o que penso. O que sinto. O que quero. Nem sei se quero alguma coisa de fato quando este banho de fel me chega aos lábios...aos olhos...ao sexo.
 
Às vezes penso que não adianta pensar. Às vezes me perco na teia do meu próprio pensamento que vai se enredando em poesia e tecendo fios de melancolia...sim, sou um pouco melancólica. Sempre. Mesmo quando estou feliz e sorrio. Mesmo quando projeto meu corpo para o teu com os olhos febris....implorando por  mais um momento...tendo a certeza de que o receberei de suas mãos.
 
Existe algo de mágico na melancolia. O amor é melancólico pois tem um gosto constante de desafio e perda...sinto saudades suas quando está em meus braços, o rosto colado em meus seios, minhas pernas agarrando o teu corpo como duas garras gigantes...quero prendê-lo em meu mundo e você me olha ternamente...indefeso, sem reservas. Sinto-me tristemente feliz...nenhuma felicidade absurda fica impune neste mundo cinza cor de rato.
 
Sinto-me tristemente feliz porque não há felicidade sem tristeza. Não há paixão pela vida sem uma boa dose de desespero. Só pode apreciar e beber da luz quem dormiu com a escuridão.
 
 
 
 

 
 

 
 

Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 











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