quinta-feira, 25 de maio de 2017

Poesia na veia

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

Gosto do teu cheiro pela casa. O gosto do fumo em sua boca. Respiro lentamente , caindo em queda livre nos abismos caóticos da minha alma de poeta. 

Ando nua e descalça por terras imaginárias, tecendo poesia com minhas memórias vagas. Teu cheiro me leva para o meu paraíso perdido, para a minha terra prometida onde jorrarão vinho e melodia.  Onde me colocarei a dançar loucamente ao som das verdades tecidas por minhas mãos. 

Detesto o moralismo desta gente que não sabe gozar. Detesto o moralismo que ainda reside em mim , segurando o meu braço com violência diplomática , trancando em meu peito, em minha garganta , em minha boca o grito louco que não quer parar. 

Quero correr pela rua sem ter hora para chegar . Quebrar os relógios do mundo. Me atirar em seus ponteiros e simplesmente brincar e brincar e brincar pois tudo não passa de uma grande piada. 

Quero o teu beijo antes de dormir pois é um dos poucos clichês que posso suportar sem cair aos prantos ou na gargalhada. Quero o teu beijo pois ele é a sua parte que pertence a mim. É a parte que posso engolir e deglutir como o mais venenoso dos frutos proibidos. 

Não temo os venenos . Temo as curas. Gosto de me olhar no espelho e me ver assim meio torta , meio irônica , meio doce. Meio sua , meio minha , meio desta humanidade perdida , que crê na Salvação do Deus espinafre e que tece preces aos santos rúcula , acelga e tomate sem azeite. 

Continuo a me envenenar comigo mesma , com minha poesia suja e barata. Com o meu amor que se chafurda em lençóis amarfanhados.  




































Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.












Um comentário:

  1. Análise da Desconstrução Poética Entremeada (Mim e Ti) ou Arcabouço Versiforme de Distâncias Paralelas.

    É notório, porém inimaginável, que a linguagem perene da poesia perpassa - não apenas por feitios de inspiração enigmáticos, mas também pelas fibras dos músculos cardíacos daqueles que a absorvem sem a tênue consciência da ternura que as envolvem - textos de dna’s similares que se vestem, se despem e se revestem de um olhar ambíguo e idêntico. No entanto, vê-se necessário desolhar. O ato de desolhar independe dos arroubos que a poesia provocou. O nirvana poético é saber lidar com emoção em estado bruto, dentro de bolhas de sabão. Versa quem estoura com a espada samurai do afeto ou quem estoura com a agulha colossal de costura da avó. Mas há de se saber a força, o peso, o movimento, o fluxo, o tempo, pois o estouro deve ser sempre encanto e surpresa.

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