sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Aqui agora

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

A garota desbocada de hoje se inspirou num post do Facebook. Soou meio banal, não é? Estilo café expresso bebido às pressas , rumo ao trabalho ou fast food devorado entre dois compromissos quaisquer?

Sim, posts têm um quê de banal. Mas podem nos dizer muito com poucas palavras. A gente bate os olhos e se sente atropelado por uma manada , como diria Luis Fernando Veríssimo em sua melancolicamente hilária crônica "O dia da amante".

Sim, me senti atropelada por elefantes coloridos , fazendo uma dança erótica depois de encherem a cara com Balalaika. 

Sim, me senti dançando junto com eles, meio louca de tanto rir sozinha, enfadada com os próprios encontrões que dou vire e mexe andando pelas ruas esburacadas da vida.

O post dizia o seguinte: Faça com tesão ( ou não faça). Ok.Ok.Ok. Nem sempre dá para fazer tudo com tesão. Dá para imaginar alguém fazendo com tesão o seu bilhete do metrô numa manhã calorenta? Dá para esperar pela sua senha entre gemidos roucos e arrepios na pele?

Dá para conduzir com tesão aquele papo chato, estilo "me pegaram para Cristo?" Dá para sentir tesão quando a gente é obrigado a fazer qualquer coisa mega importante que a gente não quer?  Fico impressionada como as tarefas mais urgentes do dia a dia são normalmente as mais chatonildas.

Por outro lado, podemos sim escolher viver com doses maiores ou menores de tesão. Ou tensão. Podemos sim escolher prolongar momentos cansativos, conversas chatas, relações extenuantes e vampirescas, trabalhos insuportáveis.

Podemos sim decidir relaxar e curtir o que a vida oferece de bom grado e sorrindo ou nos deixarmos levar pelo estresse, por aquilo que poderia ser feito no dia seguinte.

A grande verdade é que não sabemos priorizar: a louça suja sobre a pia rouba ricos momentos de romance. As chatices do trabalho contaminam o sabor das refeições, dominam as conversas, a necessidade de fazer tudo para ontem sequestra o melhor da vida e o pior de tudo: não pede resgaste. 

Sim,  volto a dançar com os elefantes coloridos. Volto a me mexer sob o som de suas risadas imaginárias. Rio junto...ou choro? Não sei. O gosto da Balalaika simbólica me confunde. Só sei que quero sorver e sorver e sorver ...sem entender. Possível? Possivelmente sim. Provavelmente não. O que me resta é me deixar levar pelo momento que se esvai. 

Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 











2 comentários:

  1. "Me pegaram para Cristo?" Foi ótimo!rsrs! Eu tenho uma certa mania de analisar as coisas por diversos pontos de vista. E quando me deparei com a postagem me questionei sobre esse "Fazer". Nem sempre temos tesão para fazer determinadas coisas. E que geralmente somos obrigadas a fazer como se fosse algo bom. Sabe, é como fingir orgasmo numa transa ruim. Seu corpo está lá,mas, seu pensamento foca em outra dimensão. Em alguma outra coisa que te faça sentir realmente prazer. Não sei você já parou para pensar, mas, toda vez que fazemos alguma coisa que não queremos fazer projetamos algo prazeroso na mente para fugir da tensão. Tipo, nos damos "gratificação" por cada situação que conseguimos sobreviver. E acredito que é isso que nos faz aguentar os desprazeres da vida.

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    1. Super interessante seu comentário Daelin darling! Me fez lembrar de uma personagem do romance Xogum. E tem muito a ver comigo mesma. Quando tenho um desprazer grande , como por exemplo, quando preciso ir a um lugar que não quero, costumo desmarcar algum outro compromisso para não ficar muito sobrecarregada. Não tenho vocação para mártir. Sou contra esta cultura do sofrimento que fortalece. O sofrimento virá de qualquer jeito mesmo. Não me agrada a ideia de pegá-lo com as mãos.

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