sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

A eternidade me cansa

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

Tenho preguiça da eternidade. Só de pensar , imaginar vagamente , sinto vontade de me encolher no canto da alma.

Quero me deitar em posição fetal e pedir baixinho para que tudo acabe. Estou cansada. Estou cansada. Estou ...às vezes , até terminar uma frase pode ser um porre.

Caminho pela rua. A noite está agradável. É bom andar por aí, sem rumo, depois de comer um bom teppan e tomar um Campari batizado com soda limonada. Sim, a eternidade poderia ser assim. Sentir para sempre a lânguida sensação de um bom teppan com Campari. E depois sair por aí, pensando em tomar um sorvete ou receber uma massagem nos pés numa destas casas de massoterapia que encontramos na Liberdade , com os micro ambientes separados por biombos.

Sim, a eternidade me enche de preguiça. Não quero aprender mais nada. Não quero ser um espírito de luz. Não quero uma felicidade que não inclua os prazeres deliciosos que aqui foram negados.

Quero continuar comendo teppan e yakisoba e rolinhos primavera e um bom churrasco com saladinha de cebola , batata com maionese, macarrão à noite.

Sim, se a eternidade for caminhar por aí, depois de ter saboreado um bom steak tartare com uma dose de Bellini, ok para mim. Se a eternidade incluir uma quick massagem, eu vou sorrindo. Sorriso de canto de boca. Se a eternidade incluir uma boa dose de paixão, me abandono à sua vontade.

Sim, viver para sempre me cansa. Sempre temi o imobilismo, aquilo que nunca muda , que nunca acaba. Tatoos? Nem pensar! Se pudesse trocava a pele do corpo e da alma todas as semanas. Como ser apenas um num mundo cheio de possibilidades?

Sim, viver para sempre me cansa. Me cansa muito. Mas se a eternidade for como deixar-se ficar numa mesinha de canto de algum bistrô, por que não?














 
 
 






 

Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 




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