quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Inquietações cheias de apetite no começo do ano

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS


Depois de alguns poucos dias longe do blog e de qualquer outra atividade neurótico/lúdica/intelectual que exigisse o uso simultâneo de três neurônios, me sinto revigorada novamente para voltar a destilar as minhas "verdades" subjetivas , carregadas de uma paixão histérica.  Pera aí! Existe alguma paixão que não seja pelo menos um pouquinho histérica? Deixarei este questionamento para um outro post ou para um outro momento da minha vida.

Há cerca de dois dias , estou com uma ideia fixa: saber se cleptomania se encaixa no quadro das neuroses obsessivas.  Questão estranha? Não. Nem um pouco. Questionamento bastante natural para uma estudante de Psicanálise.

Agora , olho para todo mundo e tento encaixar cada um em uma das três categorias propostas por Lacan: neuróticos , psicóticos e perversos.

E não satisfeita o bastante , quero encaixar as pessoas também nas subdivisões de cada estrutura. Faço isso com pessoas conhecidas, personagens de filmes famosos... é instigante e cansativo ao mesmo tempo. Mais uma maniazinha para esta garota que pensa saber o que quer. Ou pensava...

Depois de alguns poucos dias sem escrever e produzir qualquer tipo de material artístico/divertido cult/entretenimento chique, meus dedos voltam a surrar o teclado do computador cheio de apetite. Na verdade , dedo. Digito incrivelmente rápido com um dedo apenas. Com aquele dedo que usamos para fazer um sinal lúdico/irreverente/sem educação.  O dedo companheiro da garota desbocada, que adora mesclar filosofia com termos chulos, cinema cult com piadas escrachadas, lições de vida, da vida mais banal e cotidiana com o aparentemente mais complexo dos grandes escritores da literatura.

Entre os dias 23 e 31 de dezembro assisti a uma série deliciosa no Netflix: Merlí. Uma série espanhola, mais especificamente catalã.  A série tem duas temporadas , mas apenas a primeira está disponível no Netflix. Uma temporada com 13 episódios sobre um fodástico professor de Filosofia que ensina Filosofia como deve ser ensinada: com paixão.

Diferentemente do que a maioria das pessoas imagina , Filosofia não é disciplina de gabinete , para pessoas enfadadas e medrosas , que usam pilhas de livros mofados como barreiras para enfrentar o mais comezinho do dia a dia. Que usam bibliotecas e escritórios como trincheiras para fugir da vida real: medonha e fascinante em proporções quase idênticas. Que usa os livros para sublimar a falta de sexo, a falta de romance , a falta de aventura , a falta de tesão pela vida e pelas as outras pessoas.

Ao ver o primeiro episódio, já pensei: Só podia ser uma série espanhola ...com o meu típico sorrisinho irônico de canto de boca.

Merlí mostra que os conceitos deixados pelos filósofos da Grécia Antiga , pelos filósofos do século 18 e de qualquer outro século extrapolam as páginas de qualquer livro e podem ser encontrados e apalpados e acariciados e chutados no nosso banal dia a dia. 

Usa Foucault para falar sobre a tacanhez das nossas escolas nos dias de hoje . Usa os céticos para nos propor um olhar mais contemplativo e menos julgador sobre a vida. Usa os sofistas para mostrar que às vezes precisamos defender uma ideia a qual não acreditamos para obter um objetivo importante. Usa Guy Debord para mostrar os estragos feitos pela sociedade do espetáculo. Usa Nietzsche para falar sobre o super homem ou simplesmente alguém que se reinventa, utilizando como combustível a sua própria força.

Cada episódio, uma aula. Cada episódio, um deleite.

Sim, Merlí mostra que não existe nada mais cotidiano, prático e aplicável à vida real do que o amor ao saber. Sim, filosofamos quando jogamos fora ou simplesmente questionamos qualquer coisa que é aceita como inquestionável pela sociedade. Sim, filosofamos quando chutamos regrinhas bobas que não servem para nos tornamos melhores ou mais felizes. Sim, filosofamos quando optamos pelo amor , quando nos arriscamos a sermos nós mesmos , quando escolhemos por um estilo de vida que faça sentido para nós e não para os outros.

Sim, filosofamos quando rimos , brincamos , quando bebemos vinho, quando fazemos amor , quando nos apaixonamos, quando lutamos contra aquilo que luta contra nós. Quando simplesmente olhamos para o espelho e pensamos que tudo poderia ter sido muito diferente para nós.

Falando em questionamentos , estou com uma dúvida inquietante: o que significa fazer muito cocô? Fazer muito cocô indica  simplesmente  que estamos comendo demais ou fazer muito cocô é uma estratégia do organismo para não engordamos muito? 










 
 
 
 

 
 
 







 
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 



2 comentários:

  1. Risos...
    Será que , em tempos de crise, aumentaste a produção de cocô?

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  2. RSRSRSRSRSRSRS Como um recurso natural para suprir os problemas causados pela sociedade??? RSRS

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