sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Mandando tudo para PQP e à merda ao mesmo tempo!



 
 
Garota debochada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

Depois de passar por uma crise depressiva daquelas de te botar em posição fetal, dentro de um quarto escuro por vários dias , em que as únicas coisas que te animam é a certeza de que um dia você vai morrer e quando chega uma bandeja com comida, nada ou quase nada é o mesmo na vida. Nada tira meu apetite. Perco o sono, o ânimo, o humor, a fé, mas não perco o apetite.

Tudo ou quase tudo ganha um novo sentido, uma nova dimensão. O que parecia pequeno se torna grande e o que era urgente deixa de importar tanto.
 

Era viciada em fazer as unhas desde os 19 anos de idade. Toda semana estava lá eu no salão para fazer as mãos. Às vezes até uma segunda para trocar o esmalte. Um descascado na unha me deixava realmente emputecida

 
Sempre valorizei meus amigos, mas lá no fundo esses eram uma espécie de companheiros simpáticos na sala de espera da vida. Quando encontrasse meu grande amor, sairia da sala para dar o play no filme da minha existência.
 
Sempre tive muita simpatia por Psicologia e Psicanálise, mas achava que eu não precisava fazer tratamento algum, pois no dia em que a minha vida começasse, pararia de sofrer horrores.
 
Achava que o casamento era a solução da vida. E se fosse minimamente rejeitada, a culpa era com certeza minha.
 
Depois que nos recuperamos de uma depressão daquelas que faz o sol ficar cinza e sentir preguiça até de raspar as axilas, você começa a entender que a vida é o que é. E que não adianta chorar e reclamar. Certas coisas não são para acontecer e quanto mais cedo aceitar isso, menos estresse para você e para todos aqueles que estão ao seu redor.
 
No início da minha recuperação só filme trash e chocolate me animava. Depois, aos poucos, com o tempo fui redescobrindo outros prazeres e alegrias até voltar completamente à tona. Percebi realmente que estava começando a melhorar quando fiz piadas a respeito do Rivotril e meus alunos riram. Meu maior temor era virar uma professora chata e pé no saco que ninguém aguenta. Que só de ouvir a voz dá vontade de bocejar ou de se jogar pela janela.
 
Depois evoluí para piadas mais calientes e deprimentes como meu jejum de sexo e minha carência afetiva. Sim, comecei a achar toda aquela merda fedida na qual estava afundada um pouco engraçada e até mesmo interessante. Sim, a merda tem o seu charme, o seu savoir fare. Estar na merda é banal.  Admitir-se na merda é charmoso. Fazer piada da merda pode ser a melhor das terapias e dos stand ups ao mesmo tempo, numa espécie de dois em um tragicômico.
 
Hoje corto as unhas em casa , acumulei um quilo de cutícula,  faço psicanálise, vivo convidando meus amigos para sair ou vir aqui em casa.  Uma unha malfeita não me impede mais de me sentir bem ou assumir um compromisso. Meus amigos já não fazem mais companhia para mim enquanto espero meu amor.  Já não são o meio, são o fim. Descobri que sair, conversar e encher a cara com amigo é bom pra c...   Comecei a achar que casamento pode ser muito bom, mas não é a solução da vida.  Dependendo do noivo em questão pode ser bem chato ou até mesmo a condenação.
 
Descobri que não preciso estar com alguém “legal” para imprimir em mim o selo de qualidade ISO 9000. E decidi que se um dia voltar a namorar, quero alguém bem desencanado.  Falamos em inteligência, charme , cultura , mas só quem se relacionou com alguém sistemático ao extremo ,  para não dizer pentelho de dar dor no colo do útero, subestima o valor de um bom macho desencanado coçando as suas partes , vivendo e principalmente deixando viver.
 
Estou descobrindo a minha agressividade, o meu senso de sobrevivência. Pasmem, mas descobri que a minha   vida já começou em meados de 1978, quando me tiraram da barriga da minha mãe.  Descobri também que o futuro não existe e que mais vale um sushi não erótico com um amigo do peito ou uma cerveja num boteco com meus queridos alunos do que a projeção de uma vida a dois perfeita.
 
 
 
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, filmes bizarros e pessoas profundas.
 
 
 
 
 
 
 
 

 
 
 
 

 
 
 

 
 

2 comentários:

  1. Hahaha...Cada vez te amo mais, Sílvia! Pena nossa distância geográfica. Até desbocada como eu você é.
    P.S: Adorei o eufemismo "sistemático". São é chatos em essência mesmo. Gente broxa e broxante!!!
    Bj

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    1. RSRSRSRSRSRS Adorei seu comentário, Dani! Uma delícia! RS Beijos!

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