domingo, 7 de fevereiro de 2016

Sonhos tem data de validade

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS



 Comecei a assistir pelo NOW a série Sessão de Terapia. Ok.Ok.Ok. O meu caro leitor deve estar pensando neste exato momento que esta série já é antiga ( tudo envelhece muito rapidamente hoje em dia) e que eu já devia ter a assistido já que me interesso por Psicologia e Psicanálise...blá blá blá
 
Não sei explicar o porquê da minha resistência a entregar-me a algo que obviamente ou quase obviamente ia fazer a minha cabeça. Dito e feito. Assisti a 6 episódios numa tacada só.
 
Me impressionou mais especialmente o episódio em que o terapeuta atende um casal interpretado pelos atores André Frateschi e Mariana Lima.
 
Eles querem a ajuda do terapeuta para resolverem uma pendenga que é só deles: fazer ou não fazer um aborto. Ela quer . O marido não.  O terapeuta diz na cara deles que ambos na verdade querem se contradizerem. Vai mais além. Acha que o problema dela não é com o bebê , mas sim com o marido, com o casamento.  Compreensível a leitura do terapeuta. O marido é realmente um chato.
 
Na história , ela havia feito tratamento para engravidar durante cinco anos e quando já havia desistido e reestruturado a vida sem o segundo filho, uma gravidez a surpreende no mau sentido da palavra.
 
Enfim, este episódio e esta personagem me fizeram refletir sobre um tema que é muito caro para mim: sonhos tem data de validade. Muitas vezes sonhamos com algo intensamente e de repente o momento passa e já não queremos mais.
 
Eu mesma fui desesperada para ter um filho entre 24 e 30 anos de idade. Depois dos 30 a vontade começou a diminuir até quase se tornar inexistente.  Sei lá. Tem coisas que precisam acontecer numa determinada fase da nossa vida.
 
A primeira vez que entrei em contato com este tema foi aos 21 anos. Eu tentei arrumar um estágio numa editora para fazer triagens de livros. A indicação foi feita por uma querida professora da faculdade. O dono da editora demorou muito para me dar um retorno e quando finalmente me disse sim, que a vaga era minha, eu já não queria mais. Birra? Não. Muito pelo contrário. Eu apenas havia arranjado um novo plano. Eu apenas havia decidido fazer mestrado e me dedicar aos estudos.
 
Fico imaginando como seria a minha vida agora se eu tivesse arranjado este estágio. Fico imaginando como seria a minha vida se eu tivesse engravidado de um namorado qualquer entre os 24 e os 30 anos. Nunca poderei saber. E hoje isso não me importa mais.
 
 
 
 


Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário