segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Sou uma exilada

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

Tenho uma melancolia. A melancolia típica daqueles que são exilados. Pertenço a muitos lugares e a nenhum. 

Em minha alma , dançam lembranças atávicas de tempos muito remotos que me arrastam para terras que nem sei se um dia eu pisei em meus pensamentos. 

Tenho uma melancolia. A melancolia típica daqueles que não pertencem nem a si mesmos. Vago pelos corredores da alma e vejo mil fragmentos espalhados em estilhaços de espelhos. Sorrio para mim mesma , tentando seduzir-me , tentando me levar para qualquer lugar morno e brando...mentira! Gosto da intensidade. Sou só uma possível verdade de mim mesma quando sou arrastada para um abismo qualquer... 

E como todo ser inconsequente , olho-o nos olhos. Flerto com o vazio. Deixo que ele me tire para dançar. Não temo o nada. Nem o escuro. Simplesmente danço. Rosto colado.  Sou uma exilada. Nunca estou totalmente em casa.

Escrevo versos rasgados que em vão tentam me costurar, me enredar numa teia de palavras mais exiladas do que este rosto que me olha fixo e penetrante por meio do espelho.
































































Sílvia Marques é professora doutora , escritora, atriz e psicanalista lacaniana. Escreve na Obvious e Fãs da Psicanálise, idealizadora da pós em Cinema do Complexo FMU. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.

www.psicanalistasilviamarques.com







terça-feira, 14 de novembro de 2017

O que não posso dizer

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS


Pertenço àquela categoria de gente suja e descuidada, que se entrega com um olhar , com um sorriso de canto de boca , que tudo revela ao tentar esconder.

Choro em silêncio atrás do biombo da vida. Seminua , secretamente desesperada , apenas um colar de pérolas dando três voltas em meu coração de poeta. 

Meu copo se esvaziou há milênios e no meu coração só restou um gosto de vinho vencido.

Não pode entender o meu abismo. Não diga sinto muito enquanto apunhala minha alma andarilha. Palavras nada significam e se insisto em usá-las é por puro vício. 

Não pode preencher meu vazio. Não diga que me ama enquanto olha distraído para o outro lado da rua.

Passo por meio dos carros com um vestido esvoaçante. Os pingos grossos de chuva beijam meus lábios. Preciso tanto ser devorada...




























































Sílvia Marques é professora doutora , escritora, atriz e psicanalista lacaniana. Escreve na Obvious e Fãs da Psicanálise, idealizadora da pós em Cinema do Complexo FMU. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.

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sábado, 11 de novembro de 2017

#$%@

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS


Sou irônica. Um pequeno truque usado por aqueles que já entenderam que tudo ou quase tudo é nada. Um pequeno truque daqueles que já viram da varanda de casa um desfile de embustes envoltos em papel celofane , chantili e mediocridade disfarçada de bons sentimentos.

Existe algo de belo na crueldade. No sorriso amargo de canto de boca , que diz para si mesmo "eu já vi este filme muitas e muitas vezes e não gosto do desfecho". 

Abro o fecho do colar. No meu colo nu mil histórias tatuadas em cores invisíveis. O sorriso torto e amargo persiste.  Ouço as pérolas de um colar gigante despencarem do meu peito esgarçado.  Se espalham pelo chão do quarto. Da alma. 

Diante do espelho da vida , me demaquilo. Há pouca maquiagem. Costumo andar de rosto lavado. Apenas meu batom vermelho e este ar de surpresa diante de notícias velhas que agora só servem para reter a urina e as fezes dos cachorros. 

Estou cansada. Deixo um pouco de rímel misturado á uma falsa dignidade. Meu copo está vazio. Mas não quero preenchê-lo. Quero sorver até a última gota da minha poesia barata.

Quero me manter de olhos abertos para sentir o tédio me rasgar por dentro. O sorriso torto e amargo persiste. Virou quase uma tatuagem, uma segunda pele , um codinome , o meu signo ascendente jogando seus mil véus sobre  um possível eu que dança nu, bêbado e louco por aí. 

Queria ouvir uma canção francesa e me emocionar, mas só escuto um...#$%@








































































Sílvia Marques é professora doutora , escritora, atriz e psicanalista lacaniana. Escreve na Obvious e Fãs da Psicanálise, idealizadora da pós em Cinema do Complexo FMU. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.

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quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Um balde de afeto diante da tela da vida

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

Olho para a tela do cinema . Me sinto engolida por ela. Um balde gigante de pipoca amanteigada no colo. Levo um punhado á boca com displicência. Pelo menos aparentemente. Mastigo a pipoca nervosamente, engulo-a como me sinto engolida pelas imagens que dançam e gritam e gemem á minha frente.

Me sinto mais uma vez criança. Talvez nunca tenha deixado de ser. Espalmo as mãos sujas de tintas coloridas na tela em branco da vida. Moldo a argila fresca ao meu bel prazer. Sorrio diante de qualquer monstruosidade que crio por acaso. 

Sujo o rosto com as tintas pasteis da tela de uma sociedade que tenta me calçar com saltos finos e um ar distinto que em nada combina com meu batom vermelho e meu brinco grande em uma orelha apenas. 

Limpo o tom nude da alma pois o amor é vermelho e como boa insana sei que tudo começa e termina nele. Danço em círculos no círculo da vida. Fogueira queimando sentimentos que quero tatuar na alma. Amo feridas eternas. Disco riscado. Gemo junto com choros do passado. Existe algo de mágico em chafurdar nos próprios excrementos e no lixo que um dia jogaram sobre nosso corpo nu, débil, implorando por mais um olhar de amor.

Pego a última pipoca no balde sujo de manteiga. Engulo como quem come um punhado de afeto. Mais um gota , por favor. Estou com sede. 





































































Sílvia Marques é professora doutora , escritora, atriz e psicanalista lacaniana. Escreve na Obvious e Fãs da Psicanálise, idealizadora da pós em Cinema do Complexo FMU. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.

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