quarta-feira, 23 de março de 2016

Sobre cumplicidade e beijos imaginários

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

Sim, quando existe cumplicidade, somos capazes de beijar a alma do outro com nossos lábios imaginários: quentes, mordazes, cheios de um veneno redentor.

Só pode conhecer o mel que de uma boca exala, quem conhece o seu fel. O amor perfeitinho foi mais uma invenção sórdida e elegante do status quo para domesticar a sexualidade e transformar o amor em acordo de cavalheiros, contrato.

Chupo laranjas sentada sobre uma árvore. O vento suave balança as folhas e os primeiros raios da noite despontam. Sinto frio. Um frio gostoso. Um frio de quem sabe que logo em seguida, estará debaixo de um edredom, protegida.

Sinto o frio daqueles que tem para onde correr num dia de chuva. O frio daqueles que se despem diante de uma lareira crepitante e recebem das mãos amadas uma taça de vinho encorpado.

Antes de eu vestir roupas secas, você me abraça. Enxuga meu corpo no seu e umedece a minha alma.

Bebe o último gole de vinho abandonado no fundo da minha taça e descobre os segredos que imagina que eu guarde. Me vê através de um véu tênue. A vista embaçada. Neon e fumaça de cigarro. E eu apenas sorrio enquanto espero que chegue até mim. Sou paciente, mas estou nua...as roupas secas contemplam a tudo largadas numa cadeira.

Cravo os dentes num pedaço suculento de laranja e imagino que seja tudo aquilo que está por vir. O frio já não me atinge mais. Agora danço com ele ainda sentada.


Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 









4 comentários:

  1. Um Tango pra dançar ao vento. Quero dançar como em " Scent of a Woman" e de olhos fechados. Quero sentir meu corpo aquecido mesmo nesse frio envolvente da noite. Onde só a Lua me observa com um olhar de cumplicidade e um sorriso de canto de boca. E se eu beber da mesma taça de vinho e descobrir tuas verdades permanecerei em silêncio e continuarei a dançar. Pois, o que estava escrito nas entrelinhas já havia descoberto na cumplicidade do olhar. E se quiser me acompanhar nessa dança, vou te estender a minha mão e te levar ao centro do jardim para que os raios do luar possa banha tua alma. Nessa mesma magiá envolvente que faz a gente fechar os olhos e dançar.

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