sexta-feira, 11 de março de 2016

Esquizofrenia ambulante

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

Woody Allen afirmou que não consegue fazer a cabeça dele trabalhar junto com o coração, pois sua cabeça e coração nem são amigos. Sinto uma identificação total por esta frase e cada vez que a leio, emito uma risada amarga.
 
Minha cabeça e meu coração também não são amigos. Mais do que isso. São rivais, inimigos. Se eles quase se esbarram numa mesma calçada, um deles atravessa a rua. A cabeça com o nariz empinado. O coração olhando para a água suja das sarjetas.
 
Mas raramente eles andam nas mesmas ruas porque têm interesses bem particulares e diferentes.
 
Minha cabeça segue pelos centros culturais da vida bebendo Martini bem gelado com uma cerejinha no fundo do copo e um bom dedinho de sarcasmo e irreverência.
 
Meu coração chora as mágoas pelos becos da cidade diante de um copo de vinho barato.
 
Minha cabeça pega no sono com um livro no colo. Meu coração adormece envolto em lágrimas e cansaço.
 
Minha cabeça anda por aí fazendo gracejos, senhor da situação, um salto dez imaginário.  Meu coração anda descalço e maltrapilho, mendigando uma moeda de carinho para não morrer de inanição afetiva.
 
Minha cabeça te olha nos olhos e entorta a boca para sorrir. Meu coração entorta a espinha dorsal e te implora.
 
Minha cabeça deita-se no divã e tenta conectar pontas soltas. Meu coração deita-se na cama e lamenta.
 
Minha cabeça usa lingerie de renda preta e batom vermelho. Meu coração compra calcinhas bege na promoção.
 
Minha cabeça manda o status quo se foder enquanto come merda. Meu coração apanha do mesmo status quo que sai correndo com as calças urinadas quando vê a minha cabeça.
 
Minha cabeça ocupa o centro da pista de dança e está sempre debaixo dos holofotes brilhando mais do que eles.  Nada pode detê-la quando decide inventar um passo louco que vira moda. 
 
Meu coração senta no banco, à espera de que alguém o tire para dançar de rosto colado ao som de "More than words".  Era louca por esta música na adolescência! Eu a cogitava como possível trilha sonora da minha vida amorosa!
 
Minha cabeça é minha. O meu coração, de algum vagabundo qualquer. De alguém que a minha cabeça não perderia nem 10 segundos observando.
 
 
 

Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 









4 comentários:

  1. Ei,falta mostrar o outro lado da situação. Só vi a fase "bad" do coração. Cadê a parte louca e corajosa dele? Onde ele enfrenta Deus e o mundo pra conseguir se sentir vivo? Que é algo que a cabeça tem medo e jugar em querer fazer por ser certo ou errado? Que aceita as coisas sem julgamentos? Diferente da cabeça que aponta os erros e pecados? E toda a esperança que ele tem de ir até o fim. Mesmo a cabeça sabendo do final? Aquela paixão que faz o coração se despir daquele vermelho intenso e sensual. E quanto a cabeça tímida não sabe o que fazer. Cadê o outro lado?

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  2. Concordo totalmente com vc e houve uma espécie de transmissão de pensamento entre nós porque me fiz esta mesma pergunta ao encerrar o texto. Sim, o coração tem um lado top. Mas o meu tem feito tanta cagada ultimamente e se dado para tanta gente que não vale o chão que eu piso , que fiquei meio de bode com ele RSRS

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  3. Meu cliente não teve culpa se ele foi iludido e sequestrado por um vagabundo. Ele foi a vítima e não pode se defender. E depois do exame de corpo delito ficou bem claro que o réu é inocente. Meritíssimo, as acusações acima foram rebatidas. Espero que este processo contra o meu cliente seja arquivado. E encerro meu discurso de defesa ao coração.

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  4. Está contratada como advogada de defesa então RS pois as minhas justificativas para mim mesma já acabaram RSRSRSRS

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