terça-feira, 8 de dezembro de 2015

É isso mesmo?

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

Mais um post do Facebook me inspirou a escrever um "testículo" no Garota desbocada. O troço era mais ou menos o seguinte:  Você é isso mesmo ou está guardando o melhor para o final? Eu o achei simplesmente hilário.

Sim, me faço esta pergunta constantemente. É isso mesmo ou ainda serei surpreendida nos 45 minutos do segundo tempo?

É isso mesmo? A vida se resume a mentir para os outros e para a gente mesmo e fazer selfies com biquinhos pseudo eróticos e decotes profundos?

É isso mesmo? A vida se resume a gastar dinheiro em Black Fraudes e mandar mensagens melosas e pegajosas no Natal para pessoas que desprezamos o ano inteiro?

É isso mesmo? A vida se resume à necessidade de assar um peru no fim de ano mesmo que ninguém goste de peru e desejar votos de felicidade eterna enquanto nos entupimos de Rivotril e sarcasmo?

É isso mesmo? A vida se resume a ser magra, usar a roupa da moda e os cabelos bem lisos?

É isso mesmo? A vida se resume a fingir que está tudo bem quando na verdade a gente quer gritar e chorar?

É isso mesmo? A vida se resume a ter um emprego, pagar as contas no fim do mês, levar um casamento com a barriga,  criar filhos que no futuro só vão te visitar no Natal para finalmente morrer?

É isso mesmo? A vida se resume a morar numa casa maior do que a casa dos outros parentes e ostentar felicidade pelo Facebook?

É isso mesmo? A vida se resume a tipo assim, a tipo assado, tô sussa e a coisa toda foi suave?

É isso mesmo? A vida se resume a ter amigos de bar, amores de verão, profissões toleráveis, orgasmos simulados, falsas esperanças , comida congelada  e verdades engasgadas no meio da garganta?




 
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.

5 comentários:

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  2. Sílvia, com muita tristeza sempre me faço a mesma pergunta, principalmente quando experimento a perda de pessoas que faziam exceção a essa regra. Eu só consigo lembrar de dois aspectos que se entrelaçam para refletir sobre essas questões. O primeiro é que nascemos aprisionados na anomia e, logo, num modelo referencial que nos é enfiado goela abaixo como o melhor, como o correto, como a única possibilidade de vida. Tanto é verdade, que termos como 'sucesso","felicidade, "realização", apesar do caráter subjetivo que possuem, são sempre impostos como genéricos e universais. Isso talvez explique o fenômeno Rivotril (nada contra, sou um dos dos amiguinhos do "Riva",rs).
    Finalizando com o desejo mimético, teoria de Rene Girard, (que acredito que já conheça de alguma das palestras do Prof. Clóvis), o ser humano vive em função dos desejos alheios, dos outros, nunca dos seus próprios. Ou seja, nos acostumamos a renegar a subjetividade, afinal, nem nos conhecemos mesmo, então, copiamos ou fazemos o que os outros fazem porque deve ser o melhor e o mais "legal". Só nos esquecemos com isso do mais mais importante: a felicidade mora na subjetividade, não no copyleft, rs. Mas, enfim... Apenas uma coisa posso te dizer: ser autônomo, viver em plena consonância com nosso "eu" e sermos absolutamente sinceros, como toda escolha, tem seu preço e é altíssimo. Por isso, eu mesmo, há alguns meses atrás, escrevi a seguinte frase: Guarde sempre uma parte de ti burra, pois a inteligência raramente encontrará companhia.

    Abraços e bom término de semana, Sílvia!

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  3. É sempre um deleite ler os seus comentários. O mundo carece de profundidade. Também usei Rivotril, por pouco tempo mais usei. Atualmente faço terapia. Uma das melhores decisões que tomei em minha vida juntamente com a escolha de fazer mestrado e doutorado. Sim, o mundo é burro, fútil, mesquinho. Mas ainda podemos encontrar pessoas densas, que nos fazem viajar pela intricada e saborosa teia do pensamento. Grande abraço e muito obrigada pelo lindo feedback.

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  4. Digo, sem nenhum cinismo ou pretensão de recíproca aos elogios, o mesmo em relação aos seus textos, Sílvia. Sempre me ajudam muito a refletir sobre algum aspecto da vida, do que já estudei e das coisas que me alicerçam.
    Eu acabei nunca fazendo terapia, mas sempre recorri muito a literatura médica que sempre tive acesso e a filosofia pra que me entendesse (sempre fui um serzinho muito complicado, rs). Nesses últimos dois anos, é que cogito a terapia como uma possibilidade de continuidade desse processo de aprofundamento e busca interior, haja vista, que tive perdas humanas importantes e problemas de saúde que me levaram ao afastamento até dos meus maiores propósitos de vida. Hoje, o cultivo de paciência, enquanto processo de maturação das coisas e da vida, tem sido a minha grande luta interior. Todas as demais, que não foram poucas, eu consegui ir vencendo sozinho e muito batalha, aprendendo a reenterpretar as coisas e me perdoar mais.
    Enfim, até acabei me expondo um pouco demais, mas, de qualquer forma, agradeço o carinho de sempre nas respostas! Quanto aos densos, talvez eu que esteja nos lugares errados. Rs
    Abraços!

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