segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Sobre sonhos e pesadelos

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

 Depois de ter dado uma palestra hoje de manhã sobre o sexo e o bizarro no cinema político italiano, fui tomar a minha boa e velha cerveja regada a muitos risos sem siso e a uma alegria exagerada demais para as 11 da manhã.  Acho que toda alegria verdadeira é exagerada e despudorada mesmo...caso contrário seria felicidade padrão organizada e higienizada, postada nas redes sociais.
 
A cada vez que me deparo com uma plateia interessante e interessada, sinto a pele da minha alma se trocar como a de uma cobra que quer deglutir novos conhecimentos.
 
Só quem é professor pode entender sensorialmente o tesão que é explanar para alunos com expressões inteligentes, cheios de curiosidade e olhares sagazes. Só quem é professor pode entender com a pele o que significa transmitir e receber conhecimento simultaneamente, num processo simbiótico, em que a gente não sabe exatamente onde termina um e começa o outro.
 
De repente caímos na temática dos contos de fadas e suas versões originais e assombrosas. Mas por quê? Estávamos falando de semiótica, os signos no cinema, bons filmes não querem dizer exatamente o que mostram e uma cena de sexo nem sempre é sexo puro.
 
Muitos cineastas instigantes utilizaram do erotismo descarado e despudorado para falar de liberdade. Enfim, caiu-se no tema contos de fadas e um aluno falou sobre Alice no país das maravilhas e hoje à tarde em casa, tirando um "cochilo" de quase três horas, sonhei coisas terríveis. Uma mulher teve a língua cortada e falava normalmente e sorria maldosamente para a mãe como se ela tivesse culpa de algo.
 
Fiz associações malucas e bizarras com o gato do conto Alice no país das maravilhas e acordei com medo...uau!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Eu vejo O exorcista e pego no sono tranquilamente como uma criança ouvindo uma canção de ninar. ( Para falar a verdade, temo muito canções de ninar. Talvez tenha alguma relação com o filme O bebê de Rosemary RS)  E fiquei aterrorizada com a metáfora que relaciona o gato sorridente com um cara que abusava sexualmente de uma menina esquizofrênica. Eu devia odiá-lo simplesmente. Mas eu sinto um profundo medo. Um profundo medo por ter visto este tal gatinho tantas vezes sem enxergar o que se escondia por detrás dele.
 
A ignorância pode ser um bálsamo...um bálsamo que eu desprezo. Que eu vomito junto com uma empadinha estragada que comi por engano, por não ter um olfato e paladar muito apurados. Vomito junto com a cerveja que caiu mal. Junto com as lembranças que não me servem mais.
 
Sim, prefiro temer o gato e sonhar com aberrações. Prefiro sonhar com sorrisos diabólicos e cheios de uma mágoa mais cortante do que facas que mutilam línguas do que viver acreditando que o gato é apenas um gato em Alice no país das maravilhas.
 
 

 
 
 

Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas

2 comentários:

  1. Me vi no espelho.
    Sou o cara mais chato do mundo e ainda por cima, a vida virou um slow, andando em terceira marcha pelas ruas da minha cidade.
    Assinado: Não existo!

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  2. Não sei exatamente o porquê, mas existe um charme em quem se declara muito chato RS E vc deve saber disso. Ou não? RS

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